Ah, o cheque especial. Aquele saldo extra que aparece lá na nossa conta bancária, prontinho para ser usado, não é mesmo?
Não é só porque o dinheiro está aparecendo lá que você precisa usar, não é? Os bancos fazem de tudo para facilitar o máximo possível este uso, mas o fato é que este limite é uma das formas de empréstimo mais caras do país.
Segundo uma recente pesquisa do SPC Brasil e da CNDL, 17% dos consumidores brasileiros recorrem seguidamente ao cheque especial, como se fosse um dinheiro disponível na conta.
Neste artigo, listaremos alguns fortes motivos para você nunca usá-lo.
Como funciona o cheque especial
O chamado “cheque especial” nada mais é do que um crédito pré-aprovado, em que o cliente pode facilmente utilizar quando todo o saldo original da conta ficar zerado. É um empréstimo sem necessidade de solicitar ao banco, ele já acontece automaticamente quando a conta fica no negativo.
[mks_pullquote align=”left” width=”300″ size=”24″ bg_color=”#21c5d1″ txt_color=”#ffffff”]Todo o empréstimo bancário tem juros. E este, por ser “especial”, tem um custo altíssimo.[/mks_pullquote]
Ele foi criado no tempo em que era comum usar cheques. Por vezes, ele caía na conta mas era devolvido por falta de fundos, em casos em que o salário não entrava no dia esperado ou então algum cheque pré-datado era depositado antes do tempo. E era uma burocracia tremenda cada vez que um cheque voltava. Para minimizar isso, os bancos criaram um crédito pré-aprovado, justamente para nesses casos os cheques não serem devolvidos. Daí o nome “cheque especial”. Com o tempo, as pessoas foram usando este limite para outras coisas.
Há bancos que já incluem o valor deste limite de crédito no saldo total da conta, para induzir o correntista ao erro de pensar que todo aquele dinheiro está disponível para ele.
E pelo fato do brasileiro ter uma péssima disciplina financeira, muitos nunca fazem as contas de quanto aquilo irá lhe custar. O descontrole das finanças é comum, e aí aquele dinheirinho sobrando na conta parece ser a tábua de salvação imediata para quando o dinheiro acaba e o mês continua.
Abaixo você vê alguns motivos para você evitar usar o cheque especial.
1. Juros estratosféricos
É bem provável que você nunca tenha colocado na ponta do lápis o quanto o banco lhe cobra por este “pequeno” empréstimo. Se fizesse, veria como é uma forma pouco inteligente de gerenciar suas finanças.
Dependendo da instituição bancária, os juros cobrados no cheque especial variam entre 12% e 15%. Em um ano, isso significa mais de 300% de aumento da dívida.
Para exemplificar, vamos fazer uma continha básica. Digamos que, durante 12 meses, você sempre ficou no mínimo R$1.000 negativos no banco, usando assim o cheque especial. Afinal, um mês você usa para pagar a fatura do cartão de crédito, aí no outro mês usa de novo, porque o salário serviu para tapar o rombo no mês anterior… E assim vai.
No final deste período, entre juros e IOF (imposto cobrado pelo governo sobre operações financeiras), já saíram do seu bolso mais de R$3.000, só de juros. Se exagerarmos um pouco, mas mantendo a noção da realidade, é como se você, todo o ano novo, arremessasse este valor pela janela, para qualquer um pegar.
É, literalmente, jogar dinheiro fora.
2. A armadilha dos
“10 dias sem juros”
Há alguns bancos (como o Santander e algumas categorias do Itaú e Banco do Brasil) que oferecem “10 dias sem juros no cheque especial“. É bem legal, mas tem pegadinha.
A propaganda do Santander é linda, mas para quem passa dos 10 dias o banco cobra uma das maiores taxas de cheque especial do mercado: 14,93% a.m.
Se você conseguir controlar muito bem sua vida financeira e só usar mesmo para casos de emergência, aí sim pode valer a pena. Porém, se você achar que “tudo bem usar sempre, é de graça mesmo”, pode cair em algumas armadilhas.
A isenção de juros só vale para exatos 10 dias; se você se distrair e usar o limite por 11 dias ou mais, toda a isenção cai por terra e você paga juros retroativos equivalentes ao primeiro dia. Pois é, você não começa a pagar juros a partir do décimo primeiro, e sim paga por todos os dias que ficou no negativo. Sabia dessa?
Do jeito que o brasileiro em geral organiza as suas finanças, qual porcentagem de clientes você acha que passa desses 10 dias, sem nem perceber?
Tem outro fator: dentro dos 10 dias contam também os sábados, domingos e feriados. Se o décimo dia cair em um dia não útil, você precisa sair do negativo ANTES disso, pois se não vai ser cobrado por todos os juros no próximo dia útil.
[mks_pullquote align=”right” width=”300″ size=”24″ bg_color=”#1e97bc” txt_color=”#ffffff”]Consulte com seu banco a data de renovação do seu Cheque Especial[/mks_pullquote]Outra pegadinha é que são 10 dias “durante o mês”. Porém, o que é considerado mês nem sempre é o mesmo mês do calendário. O banco considera a chamada data de renovação do Cheque Especial, que pode ser em algum dia no meio do mês, e aí, se você usou o cheque especial antes disso, pode estar usando mais de 10 dias no período, sem se dar conta. Por exemplo, se o dia do vencimento for todo o dia 9, os tais dos “10 dias” são contados entre o dia 9 e o dia 8 do próximo mês. Se você esperou virar o dia 1º para usar o cheque especial, vai acumular com o que você já usou no mês e ZAP!, a armadilha é ativada e você acaba pagando todos os juros.
3. Cobrança de IOF
Outro custo a ser considerado é que, mesmo quando há a isenção dentro dos 10 dias, você ainda precisa pagar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) por aquele dinheiro emprestado. Como imposto é do Governo, não há promoção que cubra este gasto.
Cada vez que você usa o dinheiro além do seu limite, é cobrado o imposto de 0,38%, e mais uma alíquota de 0,0082% ao dia que sua conta ficar no negativo, sobre o total do valor emprestado. Se já estiver no negativo e usar ainda mais, vai pagar mais 0,38% de imposto cada vez. Ou seja, mesmo quando for “10 dias sem juros”, se você usar várias vezes no mês irá pagar várias vezes o IOF.
4. Cheque especial não é renda extra
Mesmo o banco fazendo de tudo para facilitar ao máximo o uso do cheque especial e tornando isso bastante atrativo para você, esse dinheiro não é seu. Nunca considere-o como uma extensão do seu salário, porque de fato ele é uma das formas mais rápidas de tirar dinheiro de você.
Você trabalha, dá um duro danado todos os dias, e acha normal dar parte do seu salário para o banco todos os meses? Pois é exatamente isso que você faz quando você usa o cheque especial.
5. Substitua por um empréstimo mais barato
Aí você diz “Poxa, mas eu só uso este dinheiro quando eu realmente preciso, quando acontece algum imprevisto que eu precise de dinheiro“. Não, isso não justifica.
Se você precisa de um dinheiro rápido para tapar o buraco de um imprevisto, o ideal é você procurar um empréstimo pessoal que possua juros bem mais baixos, para você não perder tanto dinheiro. É a famosa prática de trocar uma dívida cara por uma mais barata.
Seja sempre sincero com você mesmo (mesma) e admita que cheque especial é um empréstimo caro que você está tomando para tapar buracos. Então, se é para pedir empréstimo, que seja um mais em conta. Fazendo assim, você tem mais consciência de que aquele dinheiro realmente não é seu e que é preciso organizar suas finanças para que sua grana pare de vazar todo o mês.
Algumas considerações
- Grande parte dos bancos são bem transparentes, deixando claro no contrato (e por vezes até mesmo no internet banking) todos estes requisitos. A “armadilha” acontece por distração do cliente, que geralmente não se preocupa com isso. Por isso a importância de ficar atento.
- Se você ficar com extrato negativo, mas repor seu saldo até o final daquele mesmo dia, não será considerado cheque especial. Portanto, quando ficar negativo, corra para tapar o buraco o quanto antes.
- De tempos em tempos o seu banco poderá aumentar ainda mais o limite do seu cheque especial, para fazer um agrado. Não caia em tentação: isso não acontece por considerarem você “especial” e sim por acharem que podem ganhar mais dinheiro com você.
- Ponha na sua cabeça: o dinheiro do Cheque Especial não é seu, é do banco. E ele vai lhe cobrar caro para usá-lo.
- O Banco Central tem uma página onde lista os juros de cheque especial de cada banco.
Agora que você já tem uma noção mais aprofundada do que realmente é o cheque especial, chegou a hora de você cuidar do seu dinheiro e nunca mais querer usar esta artimanha que só ilude você. Se organize para não gastar no mês mais do que ganha e procure fazer uma reserva de emergência para quando aparecer algum imprevisto. Assim você não precisará pagar nenhum juros pedindo emprestado dinheiro dos outros.
Tire o cheque especial da sua vida e você verá como isso irá melhorar demais a sua situação financeira. 😉