É óbvio o crescimento dos meios de pagamento digitais nos últimos meses, e a tendência é o setor crescer ainda mais em 2020 com o apoio de algumas ações do Banco Central (como os pagamentos instantâneos e o Open Banking).
E como grande parte destas transações acontece via celular, as operadoras estão vendo um filão a ser explorado e já estão se mexendo para também oferecerem produtos financeiros para a sua enorme base de clientes.
Mas engana-se quem acha que as operadoras não tinham pensado nisso antes. Na verdade, todas elas já tentaram incorporar um sistema de pagamentos pelo celular há alguns anos, antes mesmo da proliferação dos atuais bancos digitais.
Tentativa que não vingou
Pouca gente sabe, mas Claro, Vivo, Tim e Oi já ofereciam sistemas de pagamentos de forma bem mais arcaica de como é feito hoje, mas foi uma solução que nunca atingiu o sucesso esperado.
Relembre algumas dessas soluções:
Meu Dinheiro Claro
Clientes da Claro podiam pagar pequenas compras usando seu número de celular, que era digitado na maquininha pelo comerciante e depois confirmado por SMS. O serviço foi descontinuado em 2015.
Oi Paggo
Com o mesmo processo de validação das outras operadoras, o cliente da Oi podia pagar em estabelecimentos informando o número de celular e validando via SMS. Durou até 2010.
TIM Multibank Caixa
A TIM permitia pagar até boletos pelo celular, em um tempo que a noção de escanear o código de barras com a câmera era algo bem futurista. O cliente tinha que digitar todo o código de barras manualmente, e depois validar. O TIM Multibank encerrou suas atividades em 2018.
Vivo Zuum
O serviço da Vivo era o que mais se aproximava de uma conta digital. Vendia o benefício de não precisar enfrentar portas giratórias de bancos, nem filas para realizar pagamentos. Hoje este discurso é bem comum, mas na época era algo meio que revolucionário. Pena que ninguém confiou e o Zuum foi encerrado em 2018.
Apesar destas iniciativas terem sido percursoras no mercado de pagamentos digitais, as operadoras desistiram delas com o surgimento de serviços mais modernos e evoluídos, como as contas digitais. Hoje, é impensável um aplicativo de pagamentos não ser capaz de escanear um boleto ou enviar dinheiro usando o QR code. Por isso a decisão de encerrar tudo e reformular o plano de negócios.
Futuro promissor
Para as operadoras, foi um recuo estratégico. A ideia agora é começar a oferecer serviços financeiros aos clientes, e crescer no setor até concorrer de igual para igual com as contas digitais.
Algumas delas já começaram no ano passado a oferecer crédito pessoal aos seus clientes. Para isso, a Vivo firmou parceria com o cartão Digio (que é controlado pelo Bradesco e Banco do Brasil) e a Claro com o banco Inbursa (de propriedade do mexicano Carlos Slim, dono da Claro).
Outro serviço oferecido que pode ser considerado como um empréstimo pessoal é a antecipação de recarga, que é quando o cliente está sem créditos e precisa realizar uma ligação de emergência. A operadora permite recarregar R$5 ou R$10 e pagar depois, com uma taxa de acréscimo.
A intenção é ampliar os serviços com o tempo, oferecendo seguros para celular, pagamento de recargas e outras formas de pagamento.
A TIM pretende apresentar em março um plano para também ampliar sua atuação em serviços financeiros. Renato Ciuchini, diretor de estratégia e transformação digital, afirmou que a empresa está atenta ao marco regulatório de serviços financeiros do Banco Central, ao pagamento instantâneo e às regras de Open Banking.
Não vamos nos restringir ao pré-pago. Olhamos toda a parte dos serviços e ecossistema de pagamentos. A expectativa é que os frutos dessas iniciativas comecem a ser colhidos a partir de 2021 e 2022.”
Hoje, grande parte das movimentações financeiras do país são concentradas nos 5 principais bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil). Com as novas regras, a tendência é a diluição destas movimentações em diversas outras ferramentas de pagamento, e por isso as operadoras não querem ficar de fora deste mercado bilionário.
No futuro, as redes de lojas das operadoras e os pontos de recarga para os celulares pré-pagos, como bancas de jornais, supermercados e drogarias, poderão ser usados, por exemplo, para sacar e depositar dinheiro.
O futuro promete.
Informações: Valor Econômico e pesquisa própria Tecnograna